Indo até o lampião cantarolando
fanhosamente.
Com jeito se leva o mundo,
O caso é ajeitar-se o jeito
(Pára; tira de dentro do chapéu
um grande ramo de flores, beija e o cheira com entusiasmo: vem à cena,
torna a beijá-lo; e passeia vagaroso.)
(Recita; é burlesco até o
fim.)
Ah-ah-ah! ah-ah-ah! Forte lembrança!
5
Ora a gente também tem seus amores?!
(Pára e se dirige à
platéia:)
E esta! que massada! pois um homem
Não tem alma também como os senhores?
De qualquer venta se apossa
10
Ou de ministro ou de moça,
Branco, escuro ou verniz.
(Pequena pausa; depois pergunta, cantando
desentoadamente:)
Quem se livra destes dois?
Ah-ah-ah! ah-ah-ah! forte lembrança!
Ora a gente também tem seus amores?
(Beija o ramo com entusiasmo.)
Eu me chamo o senhor Papa-Suspiros,
Que é nome de família deste cujo;
20
Já sonhei uma vez com o baronato,
Apesar de me verem assim tão sujo:
E moro num quartinho muito estreito,
E não pago um vintém pela morada!
Filante não sou eu! porém pergunto,
25
Há de um homem teimar com a namorada?
Ah-ah-Ah! ah-ah-ah! forte lembrança!
Oh que bela invenção, que bela idéia!
Acreditem que a gente vive muito
Quando sabe viver à custa alheia.
30
Ah-ah-Ah! ah-ah-ah! forte lembrança!
Oh que bela invenção, que bela idéia!
Eu nasci p'ra viver à custa alheia,
E vivo assim, assim meio contente;
Pois se a gente nasceu para ser pobre
35
É melhor ir vivendo assim a gente!
Cada qual vai vivendo como pode,
E porque foi com a gente a sorte avára
Há de a gente fazer-se de soberba,
E deixar de viver de meia-casa?!
40
Ah-ah-Ah! ah-ah-ah! forte lembrança!
Ora a gente tem seus amores!
Eu como, visto e bebo à custa delas,
Que vida regalada, meus senhores!
Ah-ah-Ah! ah-ah-ah! forte lembrança!
45
Ora a gente tem seus amores!
Namoro a rapariga mais galante,
Que meus olhos já viram sobre a terra;
Quando penso em casar com a rapariga,
Meu terno coração no peito
Ah-ah-Ah! ah-ah-ah! forte lembrança!
Nasce um homem também p'ra ser marido!
Oh que dia feliz! quando me lembro
Tenho ânsias de ir como perdido!
Com jeito se leva o mundo,
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O caso é ajeitar-se o jeito
Quero agora mandar fazer um fato.
E então fui comprar dez réis de flores;
60
(Mostrando o ramo para a
platéia:)
O ramo é o capital... o fato os juros,
Que me hão de pagar os meus amores.
(Beija o ramo com entusiasmo:)
Ah-ah-Ah! ah-ah-ah! forte lembrança!
Ora um homem também já compra flores?!
Pois o caso é assim, comprei-lhe flores
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Faz-se um mimo de um ramo à rapariga,
Depois... a gente pede qualquer coisa...
Não tem mais que dizer, vendeu a espiga!
Pois amor é assim, o mais é bucha,
Eu cá sigo os amores desta laia.
70
Para paio de amor sou muito pobre,
Ela é mais rica, seja ela -
paia!
Com jeito se leva o mundo
O caso é ajeitar-se o jeito
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A gente é como é - diz o que pensa,
Quem não pensa o que diz - faz como a gente,
Põe-se aí a pregar sermão aos outros
E pega - vai fazendo o que não sente.
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Namorar, namorar como eu namoro,
Isto sim fica bem e a todos cabe;
Não é andar aí quebrando cantos.
Suspirando de amor por quem não sabe!
(Depois de contar as horas:)
Já dez horas, Jesus! Não tarda a bicha!
85
Ai! que tenho ciúmes dos senhores!
(Olhando com atenção para a
platéia e camarotes.)
Tanta gente... e que olhos curiosos
Para a cena gentil de meus amores!
Mas senhores, desejo a sós com ela,
A minha namorada, os meus amores,
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Um momento ficar, para entregar-lhe.
Este raminho de inocentes flores.
Como podem porém nos seus juízos,
De nós - ambos fazer - idéia injusta,
Eu lhes passo a contar um episódio
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Para que vejam - quanto a moça custa.
(Canta ou recita ao som da
música:)
Que mal? Pois não sabe...
Que a moça é inocente,
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Eu me chamo o senhor Papa-Suspiros
Porque tenho vivido deste modo,
Suspirando d'amor pela Esperança,
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Criada a mais gentil do mundo todo!
Ah-ah-Ah! ah-ah-ah! forte lembrança!
Ora a gente também tem na esperança!