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[Mambembeiros em apuros]

Sala de aparência modesta completamente vazia. Porta ao fundo e laterais.

Cena I

DONA RITA, LAUDELINA.

DONA RITA.- (Entrando da esquerda acompanhada de LAUDELINA.) Deixa-me! Deixa-me! Quero estar só!

LAUDELINA.- Mas por que está zangada comigo?

DONA RITA.- Se não fosses tu, não passaríamos por tantas vergonhas! Não sei como sair desta maldita cidade!... A passagem do Mar Amarelo, em vez de salvar a situação, agravou ela!... Mas que peça!... Que peça bem pregada!

LAUDELINA.- Não conseguiu ser representada na segunda noite.

DONA RITA.- Pois se nem na primeira acabou! Que pateada!...

LAUDELINA.- Parecia vir o mundo abaixo!

DONA RITA.- Mas que borracheira! Bem diz o ditado: «Se não houvesse mau gosto, não se gastava o amarelo!». E amarelo é desespero! Estou desesperada!

LAUDELINA.- E eu.

DONA RITA.- Tu? Tu tens o que mereces! Os amigos do Frazão não respondem às cartas nem aos telegramas. A renda dos espetáculos não chegou para pagar o que temos comido. O público não quer saber de teatro. O coronel Pantaleão nos garantiu nesta casa até o dia dezoito... mas o dia dezoito é hoje... A tal dona Gertrudes, a dona da casa, já me preveniu...

LAUDELINA.- Como se, na situação em que nos achamos, precisássemos de folhinha. A senhora que lhe disse?

DONA RITA.- Que se entendesse com o Frazão. Mas o Frazão não pode fazer milagres! Pois se nem ao menos pagou os vinte e cinco mil-réis que ficou a dever ao mestre da banda! E o italiano não nos deixa a porta! (Imitando CARRAPATINI.) Vinte e xinque mila ré! Vinte e xinque mila ré!8

LAUDELINA.- O que mais me aborrece é o tal coronel não querer pagar a nossa ida para o Rio de Janeiro!

DONA RITA.- Ele anda se enfeitando para ti, e eu estou vendo o momento em que seu Eduardo faz alguma!... É o diabo, é o diabo! Estou desesperada! Deixe-me! Quero estar só! Vou meter-me no meu quarto e trancar-me por dentro!... (Sai furiosa pela esquerda.)

LAUDELINA.- Dindinha! Dindinha!...

(Acompanha-a até à porta, mas DONA RITA fecha-se por dentro.)

Cena II

LAUDELINA, depois EDUARDO.

LAUDELINA.- (Só, voltando à cena.) Ela tem razão. A culpada sou eu. Pensava que a coisa era uma... e a coisa é outra. Que seria de mim se dindinha e seu Eduardo não me houvessem acompanhado? A quantos perigos estaria exposta? Fui eu a culpada... logo, compete-me salvar a situação... e é o que vou fazer... Só há um meio, um meio que me repugna, mas não tenho outro... é embelezar esse ridículo coronel, até que ele se explique... Mas com que olhos seu Eduardo verá o meu procedimento?... Que juízo fará de mim?...

EDUARDO.- (Entrando do fundo.) Bom-dia.

LAUDELINA.- Bom-dia. Já tão cedo na rua?

EDUARDO.- Fui ver se tinha carta no correio. Escrevi ao Trancoso, aquele vinagre da rua do Sacramento, o tal que recebeu os meus ordenados... mas o miserável fez ouvidos de mercador!

LAUDELINA.- Também o senhor deve estar desesperado.

EDUARDO.- A tudo me resignaria se a senhora me dirigisse ao menos uma palavra de consolação... se correspondesse a este afeto insensato... Mas, em vez disso, faz-me ter ciúmes... de quem?... Desse pateta, desse coronel Pantaleão, homem velho e casado!

LAUDELINA.- Os seus ciúmes, além de serem absurdos, são injuriosos!

EDUARDO.- Se são injuriosos, perdoe. Absurdos não podem ser. Não há ciúmes absurdos.

LAUDELINA.- Pois não foi o senhor mesmo que me recomendou que agradasse ao coronel?

EDUARDO.- Sim, agradasse, mas não tanto...

LAUDELINA.- Tanto... como?

EDUARDO.- Consentindo, por exemplo, que lhe pegue na mão, assim... (Pega-lhe na mão.) que a beije... (Vai beijar-lhe a mão.) assim...

LAUDELINA.- (Retirando a mão.) Alto lá! Ele nunca me beijou a mão! Pegou nela, isso pegou... e disse-me umas bobagens... mas se eu me zangasse, não teríamos o que comer. Francamente: era preciso dar-lhe esperanças...

EDUARDO.- Essas esperanças são indignas da senhora! Se fosse a Margarida, eu não diria nada...

LAUDELINA.- Olhe, seu Eduardo, vou confessar-lhe uma coisa pela primeira vez: eu gosto do senhor.

EDUARDO.- Ah, repita! Diga que me ama!...

LAUDELINA.- Não! Eu não disse que o amava; disse que gostava do senhor... O verbo amar só se emprega no teatro e no romance... Eu gosto do senhor; vem a dar na mesma.

EDUARDO.- Gosta de mim!

LAUDELINA.- Gosto. Agora, diga: é pelo seu dinheiro?

EDUARDO.- Não. Estou sem vintém...

LAUDELINA.- É pela sua posição na sociedade?

EDUARDO.- Também não.

LAUDELINA.- É pelo seu espírito? Pelo seu talento? (EDUARDO não responde.) Também não. É pela sua beleza?

EDUARDO.- Não há homens bonitos.

LAUDELINA.- Na opinião dos feios. Pois bem; no entanto eu gosto do senhor. Gosto porque gosto, e hei de ser sua mulher...

EDUARDO.- Que felicidade!

LAUDELINA.- Espere. Hei de ser sua mulher, mas sob uma condição...

EDUARDO.- Qual?

LAUDELINA.- Enquanto estivermos no mambembe... enquanto durar esta excursão, faça de conta que não tem direito algum sobre mim, nem me peça conta dos meus atos, porque a nossa vida aqui é toda anormal e fictícia. Só me considere sua noiva quando chegarmos ao Rio de Janeiro.

EDUARDO.- De Maxambomba para lá?

LAUDELINA.- De Belém mesmo, se quiser... ou da Barra do Piraí. Até lá, prometo... juro não praticar ato algum que me torne indigna de ser sua esposa.

EDUARDO.- Ó Laudelina!

Dueto

EDUARDO.-
Depois do que te ouvi, anjo querido,

Pode a sorte fazer de mim o que quiser,

Contanto que algum dia eu seja teu marido,

      E tu minha mulher!


LAUDELINA.-
Sim, mas se acaso fizer cenas,

E se ciúmes tolos tiver,

Não terei pena das suas penas,

Não serei nunca sua mulher!


Ambos

LAUDELINA.-
Não terei pena das suas penas,

Não serei nunca sua mulher!


EDUARDO.-
Não terá pena das minhas penas,

Não será nunca minha mulher!


EDUARDO.-
Prometo que farei o que meu bem quiser!


LAUDELINA.-
Não creio nessas

Vagas promessas.


EDUARDO.-
Que mais quer de mim?

Quer que eu jure?


LAUDELINA.-
Sim!


I

LAUDELINA.-
Jura que só chegando ao Rio

Se lembrará que é o meu futuro?


EDUARDO.-
Juro!


LAUDELINA.-
Não me lançar olhar sombrio

Quando agradar alguém procuro?


EDUARDO.-
Juro!


LAUDELINA.-
Não lhe passar pela cabeça

Que o meu amor não seja puro?


EDUARDO.-
Juro!


LAUDELINA.-
Ciúmes não ter quando aconteça

Eu com alguém ficar no escuro?


EDUARDO.-
Ju... Perdão! Isso não juro!


LAUDELINA.-
Se não jura, eu lhe asseguro:

Não serei sua mulher!


EDUARDO.-
Juro, juro, juro, juro!

Juro tudo que quiser!


Ambos

EDUARDO.-
Juro, juro, juro, juro!

Juro tudo que quiser!


LAUDELINA.-
Jura, jura, jura, jura,

Jura tudo que eu quiser!


II

LAUDELINA.-
Jura deixar que pra viagem

Eu tente ao menos achar furo?


EDUARDO.-
Juro!


LAUDELINA.-
Não se zangar co'uma bobagem

Que por necessidade aturo?


EDUARDO.-
Juro!


LAUDELINA.-
Jura deixar que ponha tonto

Um coronel tolo e maduro?


EDUARDO.-
Juro!


LAUDELINA.-
E mesmo lhe apanhar um conto,

Seja isto muito duro?


EDUARDO.-
Ju... Perdão! Isso não juro!


LAUDELINA.-
Se não jura, etc.

(Como acima.)


LAUDELINA.- Bom! eu precisava desses juramentos... porque vou, talvez, parecer o que não sou... Ao contrário não sairemos de Tocos!...

A VOZ DE DONA RITA.-Laudelina!

LAUDELINA.- Lá está dindinha a chamar-me! Ela disse que ia trancar-se no quarto, mas não pode passar meia hora sem me ver. Descanse: estou bem guardada.

(Sai pela esquerda.)

Cena III

EDUARDO, depois BONIFÁCIO.

EDUARDO.- (Só.) Parece-me que fiz juramentos que não devia ter feito. Mas que poderei recear? Laudelina é honesta... Se não o fosse, que necessidade teria de dizer que gosta de mim e há de ser minha mulher?

BONIFÁCIO.- (Da porta.) Dá licença, nhô?

EDUARDO.- Entre. Que deseja?

BONIFÁCIO.- (Entrando e apertando a mão de EDUARDO.) Não cortando seu bão prepósito: é aqui que é a casa de siá dona Gertrude?

EDUARDO.- Sim, senhor.

BONIFÁCIO.- Vancê é empregado da casa?

EDUARDO.- Não, senhor. (À parte) Quem será este animal?

BONIFÁCIO.- Vancê tá assistino aqui?

EDUARDO.- Está o quê?

BONIFÁCIO.- Pregunto se vancê tá assistino aqui... sim, se é ospe dela?

EDUARDO.- Hospedela? Sou.

BONIFÁCIO.- vê que eu queria falá co ela pro morde a cumpanhia de treato qui tá qui... ou com seu Frazão...

EDUARDO.- (À parte.) É o credor dos carros! (Alta.) Bom; espere aí que vou chamar o senhor Frazão.

BONIFÁCIO.- Homessa! Então dona Gertrude é seu Frazão?

EDUARDO.- Não, dona Gertrudes é a dona da casa em que está hospedada a companhia. Com quem o senhor quer falar: com dona Gertrudes ou com o senhor Frazão?

BONIFÁCIO.- Com quem é que vancê qué que eu fale?

EDUARDO.- Sei lá! Com quem você quiser!

BONIFÁCIO.- Então vancê chame seu Frazão. Tenho um negoço co'ele.

(EDUARDO sai.)

Cena IV

BONIFÁCIO, só.

BONIFÁCIO.- Tô coas perna qui não posso, e aqui não tem uma cadeira pra gente descansá! Seis légua no pangaré em quatro hora é da gente se matá! E óiem que eu fui tropero! Já gramei aquela serra de Santo co meu trote de burro, um bandão de veis. Era uma vidinha de cachorro que se passava, mais assim às veis, dá um poco da sodade. A gente tomava o seu cafezinho da priminha bem cedo, arreava as mula e tocava inté notro poso. Quando eu via as bruaca tudo alinhada, as mula tudo amarrado na estaca, mar comparando, (Gesto.) e quá o jeito de vancêis, óie era bonito memo. A madrinha era uma mula turdia ferrada dos quatro péis qu'era um gambelo de gorda. Quando ela ia na frente (Imita chocalho.) gue... leim... gue... leim... eu atrás co meu tupa, pendurado no ombro, era só! E baju! Tá cumeno capim da cangaia diau!... (Assobia.) Orta mula!... De repente alguma mula desguaritava nalguma incruziada qu'era um inferno: «Nhô Bonifácio, cerque essa mardiçoada!». E eu se galopeava atráis da tinhosa, pracatá, pracatá! Que nem um inferno! De uma feita a mulinha pangaré que levava o cargueiro tropicô num toco, cortô a retranca, esparramô a carga da cangáia e abriu-se pro campo afora, veiaquiano, dando coice de céu in terra! Home, dessa feita perdi a cabeça, passei mão na guerrucha e tin... (Imita tiro.) Sortei um panázio nela, que'ela viu o diabo escangaiado. (Outro tom.) Homessa! Mas o tar nhô Frazão não virá? (Mesmo tom que acima.) E ota bestinha boa que era ela! Eu queria bem ela que nem qui fosse minha irmã!

Cena V

BONIFÁCIO, FRAZÃO.

FRAZÃO.- (Da direita.) Como passou, seu?...

BONIFÁCIO.- Beimecê.

FRAZÃO.- Olhe que por enquanto não é possível. Não fizemos nada.

BONIFÁCIO.- Ahn?

FRAZÃO.- Não é possível!

BONIFÁCIO.- Como não é possive?

FRAZÃO.- Tenha paciência. Não posso agora pagar os seus carros.

BONIFÁCIO.- Não faz . Nhô Chico Inácio paga.

FRAZÃO.- Nhô Chico Inácio paga?

BONIFÁCIO.- Ele me deu orde, conforme a sua resposta, de tratá e pagá.

FRAZÃO.- Então foi Nhô Chico Inácio quem fez a gentileza?...

BONIFÁCIO.- (Sem entender.) Quem fez o quê?

FRAZÃO.- A gentileza?

BONIFÁCIO.- Não sei se ele fez isso... o que eu sei é que ele paga.

FRAZÃO.- Paga? Belíssimo! Esplêndido! Estou livre dos carros! Olhe, diga a nhô Chico Inácio que escreva um drama.

BONIFÁCIO.- Ele escreveu, sim, sinhô.

FRAZÃO.- Escreveu? Então que o mande! Eu represento!

BONIFÁCIO.- O que ele escreveu foi esta carta. (Dá-lhe uma carta.)

FRAZÃO.- Ah! Temos uma carta?

BONIFÁCIO.- Vancê leia!

(FRAZÃO vai abrir a carta e é interrompido por VILARES, que entra da direita.)

Cena VI

Os mesmos, VILARES, depois PANTALEÃO.

VILARES.- (A FRAZÃO em mangas de camisa, com um leque de doze cartas na mão.) Ó filho, vê se nos livras daquele italiano!

FRAZÃO.- Que italiano?

VILARES.- O tal Carrapatini, o mestre da banda. Está nos amolando! Não nos deixa jogar o solo! Entrou pelos fundos da casa e quer porque quer os seus vinte e cinco mil-réis! Cara banda!

FRAZÃO.- De cara à banda estou eu, que não tenho com que pagar.

VILARES.- Conversa com ele.

FRAZÃO.- Mas conversar como, se estou na disga! (A BONIFÁCIO.) Você sabe o que é disga?

BONIFÁCIO.- Não, sinhô.

FRAZÃO.- Homem feliz. (A VILARES.) Dize ao Carrapatini que venha ter comigo! Esse italiano, por causa dos vinte e cinco mil-réis, é capaz de arranjar uma questão de protocolo!

VILARES.- Cá o terás. (Sai pela direita.)

BONIFÁCIO.- Vancê leia a carta!

FRAZÃO.- É agora! (Vai abrir a carta e suspende-se vendo o coronel PANTALEÃO, que entra.) Oh! O coronel! (Guardando a carta.) Leio depois. (A BONIFÁCIO.) Vá esperar a resposta sentado na porta da rua.

BONIFÁCIO.- Antão inté logo.

(Aperta a mão ao coronel PANTALEÃO e a FRAZÃO, e sai.)

Cena VII

FRAZÃO, PANTALEÃO.

PANTALEÃO.- Ora muito bom-dia, caríssimo artista!...

FRAZÃO.- Cumprimento o ilustre autor de Passagem do Mar Amarelo.

PANTALEÃO.- Não me fale nisso. (Procura onde se possa sentar.)

FRAZÃO.- Por que não? (À parte.) É preciso engrossar esta besta! (Alto.) Um drama que só não foi aplaudido como devia ser por causa dos inimigos do autor! Que procura Vossa Senhoria?

PANTALEÃO.- Uma cadeira.

FRAZÃO.- Não há. Dona Gertrudes tinha muito poucas, e distribuiu-as pelos quartos dos artistas; mas quer... (Menção de sair.)

PANTALEÃO.- (Detendo-o.) Não, não se incomode! Estou bem de pé. Acha, então, que o meu drama?...

FRAZÃO.- Foram os sequazes do major Eufrásio que sufocaram os aplausos. Maldita politicagem! Mas deixe estar, coronel! Vou representar o seu drama no Rio de Janeiro, no meu teatro e no Teatro São Pedro de Alcântara! Vai ver o sucesso! É peça para centenário! O que é preciso é pô-la em cena a valer! Forneça-me Vossa Senhoria os recursos necessários... nós partimos para o Rio amanhã ou depois...

PANTALEÃO.- Não! Já estou desenganado! Desisto de ser dramaturgo! Vou queimar a Passagem do Mar Amarelo!

FRAZÃO.- Queimá-lo? Não pode! Não pode! Aquele trabalho não lhe pertence!

PANTALEÃO.-Como?

FRAZÃO.- Pertence à literatura brasileira! Faz parte do patrimônio nacional! Não deve ser representado só em Tocos!

PANTALEÃO.- Representado é coisa que nunca foi. A representação dura duas noites, e ainda não conseguiu ir até ao fim da primeira!

FRAZÃO.- Por causa de quem? Do major Eufrásio!

Cena VIII

Os mesmos, CARRAPATINI.

CARRAPATINI.- Buon giorno... signor colonello... buon giorno, signor Frazone.9

FRAZÃO.- Senhor Carrapato, buon giorno!

CARRAPATINI.- Signor Frazone, sono qui per ricever vinte e xinque mila ré della manifestazione ao colanello.10

PANTALEÃO.- (À parte.) Da manifestação? Então não foi o Irineu?

FRAZÃO.- Senhor Carrapatini, neste momento não posso satisfazer esse importante débito.

CARRAPATINI.- Ma per Dio! Vengo qui tutti i dia, tutti i dia, e lei dixe sempre hogi, manhana, hogi manhana.11

PANTALEÃO.- (Baixo, a FRAZÃO.) Diga-me cá: foi o senhor que pagou a música?

FRAZÃO.- Que paguei é um modo de dizer... que devia pagar... Paguei apenas metade.

PANTALEÃO.- Nesse caso, a festa foi sua?

FRAZÃO.- Eu não queria dizer, mas este Carrapato me obriga a confessar que sim.

CARRAPATINI.- Carrapatini.

PANTALEÃO.- E eu que não lhe agradeci! O capitão Irineu tinha-me dado a entender que o promotor da manifestação foi ele, mas deixa estar que há de ser vereador quando eu for bispo! (Baixo, a CARRAPATINI.) Quanto lhe deve o senhor Frazão?

CARRAPATINI.- Há tratato la banda per xinquenta... ha dato vinte e xinque, manca ancora vinte e xinque...12

PANTALEÃO.- Eu também estou lhe devendo o conserto deste par de botinas. Quanto é mesmo?

CARRAPATINI.- Xinque mila ré. E uno remonte.13

PANTALEÃO.- (Pagando.) Bom. Tome lá trinta mil-réis e deixe-nos em paz.

CARRAPATINI.- Grazie tanta, Signor Colonello!... Signor Frazone!14

FRAZÃO.- Vai para o diabo, Carrapato!

CARRAPATINI.- Carrapatini.

(Sai pelo fundo.)

Cena IX

FRAZÃO, PANTALEÃO.

FRAZÃO.- Não sei como hei de pagar Vossa Senhoria...

PANTALEÃO.-Não sabe como me há de pagar? Com dinheiro!

FRAZÃO.- Não! Não é isso! (À parte.) Que bruto! (Alto.) Não sei como lhe hei de pagar tanta generosidade! Ah, juro-lhe: o seu drama será representado no Rio de Janeiro!

PANTALEÃO.- Muito obrigado. O meu drama tem-me custado muito dinheiro. Já chega. Senhor Frazão, vim aqui de propósito para avisá-lo de que de amanhã em diante não me responsabilizo mais pelas despesas que os senhores fizerem aqui em casa de dona Gertrudes.

FRAZÃO.- Coronel, tente ainda mais uma cartada! Consinta que representemos o seu drama na Capital Federal. Quando Vossa Senhoria vir o São Pedro repleto de espectadores, a platéia cheia de cavalheiros encasacados, os camarotes assim (Gesto.) de senhoras decotadas, com magníficas toaletes... a imprensa toda a postos... Quando acabar o primeiro ato: à cena o autor! À cena o autor!... E as pipocas!

PANTALEÃO.- Pipocas?

FRAZÃO.- Sim, as palmas!

PANTALEÃO.- Esta linguagem teatral é incompreensível.

FRAZÃO.- E Vossa Senhoria em cena só assim... (Faz mesuras e abaixa-se como para apanhar alguma coisa.) agradecendo e apanhando as flores. E os jornais falando da peça quatro dias depois!

PANTALEÃO.- Quatro dias?

FRAZÃO.- Sim, porque leva duas noites a ser representada. Só no quarto dia a crítica se pronunciará!

PANTALEÃO.- (Entusiasmado.) Parece-lhe então que?...

FRAZÃO.- Se me parece? Tenho quase quarenta anos de tarimba! Não! Lá no Rio de Janeiro não há majores Eufrásios que sufoquem as aclamações populares! Lá ninguém fará politicagem à custa do seu drama! O triunfo é certo!

PANTALEÃO.- (Radiante.) Pois bem! Consinto!...

FRAZÃO.- (À parte.) Apre! Custou!... (Limpa o suor.)

PANTALEÃO.- Consinto que represente o drama.

FRAZÃO.- Podemos então contar com Vossa Senhoria?

PANTALEÃO.- Como contar?

FRAZÃO.- Sim... contar com as despesas da nossa ida para o Rio?

PANTALEÃO.- Com as despesas podem contar... (FRAZÃO alegra-se.) mas não comigo: não dou vintém!

FRAZÃO.- Como?

PANTALEÃO.- Não dou vintém!

(LAUDELINA aparece à esquerda. Toma o fundo da cena e aos poucos desce à direita ouvindo o diálogo.)

FRAZÃO.- Ora bolas! Então como quer Vossa Senhoria que saiamos daqui?

PANTALEÃO.- Sei lá! Não tenho nada com isso!

FRAZÃO.- Não me empresta, ao menos, o dinheiro preciso para mover a companhia?

PANTALEÃO.- Não, senhor... dou-lhe a peça, os cenários, as vestimentas e dispenso os direitos de autor. Não faço pouco!...

FRAZÃO.- (Desesperado.) Ó terra desgraçada! Ó Tocos do diabo, que eu não conhecia! Quem mandou aqui vir?... Uma peste de cidade em que nem ao menos se pode passar um benefício! (Vendo LAUDELINA e indo a ela, baixo.) Ó filha! Só tu nos podes salvar! Deixa-te de luxos e arranca daquele bruto o dinheiro das passagens!

(Sai pela direita.)

Cena X

PANTALEÃO, LAUDELINA, depois EDUARDO.

Terceto

LAUDELINA.-
Meu caro coronel...
PANTALEÃO.-
É ela! é ela!...
'Stá cada vez mais bela!
LAUDELINA.-
Meu caro coronel...
PANTALEÃO.-
Coronel, não!
Chama-me antes Leão,
Diminutivo de Pantaleão!
LAUDELINA.-
Meu caro Leãozinho...
PANTALEÃO.-
Leãozinho!
Que meiguice! Que carinho!

(Toma-lhe a mão. EDUARDO aparece à esquerda.)

EDUARDO.-

(À parte.)

Ela com ele! Ó desgraçada!

(Quer avançar mas contém-se.)

Mas eu jurei que não faria nada!
LAUDELINA.-
Leãozinho, tenha pena,
Tenha pena do Frazão!
Uma soma tão pequena
Não recuse, coração!
PANTALEÃO.-
De você, meu bem, depende
Que eu socorra a esse ator.
LAUDELINA.-
Como assim?
PANTALEÃO.-
Você me entende...
LAUDELINA.-
Não entendo, não, senhor.
PANTALEÃO.-
Se você ficar macia,
Se você me quiser bem,
Vai-se embora a companhia
E eu com você vou também...
EDUARDO.-

(À parte.)

Ele com ela! Ó desgraçada!

(Como acima.)

Mas eu jurei que não faria nada!
LAUDELINA.-
Dê-lhe as passagens, coitado!
Dê-lhas! Quem pede sou eu...
PANTALEÃO.-
Como és linda!
EDUARDO.-

(À parte.)

Estou danado!
Meu sangue todo ferveu!
PANTALEÃO.-
Menina, se na viagem
Pertinho de ti não vou,
Eu posso dar-lhe [a] Passagem,
Mas as passagens não dou.

Os três

LAUDELINA.-
Leãozinho, tenha pena,
Tenha pena do Frazão!
Uma soma tão pequena
Não recuse, coração!
PANTALEÃO.-
Se você tem pena,
Tenho pena do Frazão;
Mas se você me condena,
Eu pena não tenho não!
EDUARDO.-

(À parte.)

Laudelina não tem pena
Deste amor, desta paixão!
Não suporto aquela cena!
Espatifo o paspalhão!

PANTALEÃO.- Então?... Que dizes?... Sê boazinha para mim!

LAUDELINA.- Se dona Bertolesa o visse...

PANTALEÃO.- Não me fales em minha mulher... Aquilo é uma fúria!... Vamos... sê boa, e serás feliz! Sou rico, muito rico!

LAUDELINA.- Para mim não peço nada... mas para os meus companheiros, que se acham numa situação desesperadora.

PANTALEÃO.- Os teus companheiros pouco me importam! Só tu me interessas! (Agarrando-a.) Olha, dá-me um beijo... um beijinho!... Um só!...

LAUDELINA.- Largue-me!

PANTALEÃO.- (Tentando beijá-la.) Uma boquinha!... Uma beijoca!

LAUDELINA.- Eu grito!

PANTALEÃO.- Não grites! Uma beijoca! (Quando vai a beija-la, EDUARDO corre para ele, separa-o dela, e dá-lhe um murro.) Que é isto?!

LAUDELINA.- Seu Eduardo!...

(PANTALEÃO tira um apito do bolso e apita.)

EDUARDO.- Ah! Tu apitas.

(Atraca-se com ele e dá-lhe um trambolhão. PANTALEÃO, mesmo no chão, apita.)

Cena XI

Os mesmos, FRAZÃO, os artistas, o SUBDELEGADO, dois soldados, pessoas do povo.

CORO.-
Que foi? Que foi? Que sucedeu?

Que aconteceu? Que aconteceu?

Levou pancada e trambolhão

O coronel Pantaleão!

Ah! ah! ah! ah! ah! ah!

Pobre coronel Pantaleão!


LAUDELINA.-
Desculpar queira Vossa Senhoria

Um venerável da Maçonaria

Que é coronel da Guarda Nacional,

E presidente...


CORO.-
Perfeitamente.


LAUDELINA.-
Da Câmara Municipal!...

(Repete três ou quatro vezes.)


CORO.-
Da Câmara Municipal!...

(Repete três ou quatro vezes.)


ARTISTAS.-Mas que foi? Que foi?...

LAUDELINA.- Seu Eduardo bateu no coronel!

SUBDELEGADO.-Prendam aquele indivíduo! (Os soldados prendem EDUARDO. A PANTALEÃO, dando-lhe a mão para levantar-se.) Levante-se Vossa Senhoria.

FRAZÃO.- (Ao SUBDELEGADO.) Atenda, senhor... Quem é mesmo o senhor?

SUBDELEGADO.- Eu sou o subdelegado! A nada atendo!...

PANTALEÃO.- (Baixo, ao SUBDELEGADO.) Atenda, atenda, para evitar o escândalo!

SUBDELEGADO.- Desculpe, coronel, já disse, nada atendo! Há dois anos que sou subdelegado e ainda não consegui prender ninguém em flagrante... E hoje foi por acaso... eu ia passando com a ronda... se passasse um pouco antes ou um pouco depois, teria perdido a ocasião. (Satisfeito.) Enfim! O meu primeiro flagrante!... Vou arrumar-lhe o 303; ofender fisicamente alguém ou lhe causar alguma dor. (A PANTALEÃO.) Doeu?

PANTALEÃO.- Doeu.

SUBDELEGADO.- Doeu? Parágrafo 2º. (Aos soldados.) Sigam com o preso para o xadrez! Vamos, coronel, Vossa Senhoria é a vítima!

PANTALEÃO.- (Baixo.) Mas eu não quero ser vítima. E dona Bertolesa, se sabe...

SUBDELEGADO.- A nada atendo! Vai a corpo de delito. (A LAUDELINA.) A senhora também vai.

LAUDELINA.- Eu?

SUBDELEGADO.- É testemunha. Sigam! Sigam!

MARGARIDA.- Vamos todos! Não podemos abandonar o colega!...

ARTISTAS.-Decerto! Vamos! Vamos todos!...

(Saem em confusão pelo fundo todos, menos FRAZÃO.)

Cena XII

DONA RITA, FRAZÃO, e depois o CARREIRO.

DONA RITA.- (Entrando.) Que foi isto?

FRAZÃO.- A senhora não viu?

DONA RITA.- Estava dormindo. Acordei agora.

FRAZÃO.- O Eduardo foi preso, por ter enchido o coronel Pantaleão!

DONA RITA.- Eu já esperava por isso! E o senhor não o acompanhou?

FRAZÃO.- Não! Mas lá foi toda a companhia.

DONA RITA.- Mas o senhor... como empresário...

FRAZÃO.- Por isso mesmo. Aquilo é negócio de fiança e, como empresário, eu faria uma figura muito ridícula não tendo com que pagá-la.

CARREIRO.- (Entrando.) Louvado Suscristo! Vancê dá licença?

DONA RITA.- Olhe, aí está o Carreiro que nos trouxe do Tinguá.

CARREIRO.- É verdade.

FRAZÃO.- Como vai, seu?...

CARREIRO.- Como Deus é servido. Eu vim por morde aquilo?...

FRAZÃO.- (Sem entender.) Morde quê?

CARREIRO.- Vancê não disse que passando três dia da nossa chegada eu vinhesse arrecebê os duzento da condução?

FRAZÃO.- E nhô Chico Inácio?

CARREIRO.- Eu achei mió vortá pro Tinguá, e como tinha de í cos meus carro pra levá quem quisé i na Festa do Divino, que vai havê no Pito Aceso...

FRAZÃO.- Onde é esse Pito Aceso?

CARREIRO.- É uma cidade que tem seis légua daqui. A gente sobe a Serra da Mantiqueira, depois desce um tico...

FRAZÃO.- Vai haver lá uma festa?

CARREIRO.- Um festão! Vai um mundo de povo desta vinte légua em redó!

FRAZÃO.- (A DONA RITA, baixo.) Se nós lá fôssemos?

DONA RITA.- (Idem.) Eu não digo nada!

FRAZÃO.- (Idem.) Este homem já recebeu do tal Chico Inácio os duzentos que lhe devíamos. Temos, com certeza, crédito para esta nova viagem.

DONA RITA.- (Idem.) O diabo é seu Eduardo preso...

FRAZÃO.- (Idem.) Dão-se lá uns espetáculos e manda-se o dinheiro para a fiança. (Ao CARREIRO.) Você quer nos levar para o Pito Aceso?

CARREIRO.- Sim, sinhô.

FRAZÃO.- (A DONA RITA.) Não dizia? (Ao CARREIRO.) E quanto quer por esse serviço?

CARREIRO.- Outro duzento...

FRAZÃO.- Pois está fechado nas mesmas condições.

CARREIRO.- (Desconfiado.) Como nas mesma condição?

FRAZÃO.- Você recebe o dinheiro três dias depois da chegada.

CARREIRO.- Mas esses três dia quanto dia demora?

DONA RITA.- Ora essa!...

CARREIRO.- Sim, porque a viage do Tinguá, que vancê tinha de pagá, já passa mais de vinte e eu ainda não arrecebi!

FRAZÃO.- Então não falou com nhô Chico Inácio?

CARREIRO.- Que nhô Chico Inácio?

FRAZÃO.- Ora! Nhô Chico Inácio. Não conhece?

CARREIRO.- Não!

FRAZÃO.- Nem eu: mas o seu companheiro disse que ele pagava.

CARREIRO.- Meu companheiro?

FRAZÃO.- Sim, que por sinal me deu esta carta que ainda não li. Olhe! Ele aqui está! (Aponta para BONIFÁCIO, que aparece ao fundo.)

Cena XIII

Os mesmos, BONIFÁCIO.

CARREIRO.- Este é que é o de Chico Inácio?

FRAZÃO.- Não; este é o que supus seu companheiro, mas vejo que não é. (A BONIFÁCIO.) Então, que embrulhada é esta? Nhô Chico Inácio não pagou os carros de boi?

BONIFÁCIO.- Não pagou, mas paga.

CARREIRO.- Sei lá quem é nhô Chico Inácio!

BONIFÁCIO.- É meu patrão! O chefe do Pito Aceso!

CARREIRO.- Seja lá o que ele , mas o que eu quero é os meu duzento mi réis.

FRAZÃO.- Que trapalhada!

BONIFÁCIO.- Quem tá fazendo trapaiada é vancê. Vancê já leu a carta?

FRAZÃO.- Ah! É verdade. Estou com a cabeça a juros!... (Abre a carta e lê.) «Senhor Frazão. O portador é o meu empregado Bonifácio Arruda, que vai, em meu nome, propor a vinda de sua companhia para dar aqui três espetáculos. Como Vossa Senhoria sabe, há agora aqui uma festa do Espírito Santo, e eu sou o Imperador. O dito Bonifácio leva ordem para adiantar dinheiro para a viagem. De Vossa Senhoria, etc... Francisco Inácio». (Declamando.) Não há a menor dúvida! Vamos! (A DONA RITA.) Não é?

DONA RITA.- Isso não se pergunta!

FRAZÃO.- (Ao CARREIRO.) Você tem aí os carros e os animais?

CARREIRO.- Tenho, mas não levo vancê sem arrecebê meu dinheiro!

BONIFÁCIO.- (Ao CARREIRO.) Ó home, vancê pensa que tou enganando vancê? Dinheiro tá qui! (Mostra um maço de notas.)

FRAZÃO.- (Tomando o braço de DONA RITA para não desmaiar.) Dinheiro!

DONA RITA.- Dinheiro!

FRAZÃO.- Comecemos por pagar a fiança do Eduardo!

Cena XIV

Os mesmos, LAUDELINA, EDUARDO, os artistas.

LAUDELINA.- (Entrando.) Não tem que pagar nada!

EDUARDO.- Estou solto!...

TODOS.-Está solto!

FRAZÃO.- Solto! Mas como?

LAUDELINA.- Ameacei o coronel Pantaleão de ir à sua casa dizer a dona Bertolesa que tudo foi por ele ter-me querido dar um beijo. Tanto bastou para que se abafasse a questão.

FRAZÃO.- Tudo foi, não por isso, mas por ter eu conservado uma carta na algibeira, sem a ler. Meus senhores, vamos ao Pito Aceso dar três espetáculos!

TODOS.-Pito Aceso? Onde é?...

FRAZÃO.- Daqui a seis léguas. Fomos contratados. Este homem trouxe-nos dinheiro para a condução!

TODOS.-Dinheiro! Dinheiro!... (Dançam.)

FRAZÃO.- Tratem de se preparar! Vamos! Vamos! Saiamos, quanto antes, destes malditos Tocos!

TODOS.-Vamos! Vamos!... (Saem todos.)

FRAZÃO.- (Ao CARREIRO.) Vá buscar os carros e os animais.

CARREIRO.- Sim, sinhô! (Sai.)

FRAZÃO.- (A BONIFÁCIO.) E você arranje uns carregadores para as bagagens.

BONIFÁCIO.- Sim, sinhô! (Sai.)

FRAZÃO.- (Só.) E dizer que, quando eu chegar ao Rio de Janeiro para descansar de tantas consumições e fadigas, a primeira coisa em que hei de pensar é na organização de outro mambembe!...

Cena XV

FRAZÃO, PANTALEÃO.

PANTALEÃO.- Meu caro artista, estou inquieto... Se dona Laudelina cumpre a sua ameaça, e vai dizer à minha mulher que eu... O senhor não conhece a dona Bertolesa! É uma fúria!...

FRAZÃO.- Tranqüilize-se: nós vamos todos daqui a pouco para o Pito Aceso. Só o tempo de preparar as malas. Antes disso, Vossa Senhoria será pago dos vinte e cinco mil réis que lhe devo. (Sai à esquerda.)

PANTALEÃO.- (Só.) Querem ver que os homens foram contratados para dar espetáculos no Pito Aceso? Não é outra coisa! É a época da famosa festa do Espírito Santo, em que se reúnem mais de dez mil pessoas. E o meu drama pode ser representado lá!... Sim... aqui não pode ser, mas lá... O sucesso! O aplauso! As pipocas! À cena o autor!... À cena o autor!... (Agradece e faz menção de apanhar flores.) E depois, a Laudelina lá... Dona Bertolesa aqui... Está decidido! Vou ao Pito Aceso!...

(Sai pelo fundo. Mutação.)

[Ao Pito Aceso]

Na Mantiqueira, em pleno sol. Os artistas formam grupos nos carros de bois. FRAZÃO monta um burro. Todos admiram a paisagem.

Cena I

LAUDELINA, FRAZÃO.

LAUDELINA.- (Do alto de um carro.) Como o Brasil é belo! Nada lhe falta!

FRAZÃO.- Só lhe falta um teatro...

[(Cai o pano.)]